Por:
Marcos Pozzan
Gerente de Marketing – Aqua do Brasil
Caio Alves
Coordenador Técnico de Produtos – Aqua do Brasil
A cultura da uva foi introduzida no Brasil por colonizadores portugueses e tem contribuído, desde então, para a economia e desenvolvimento de diversas regiões do País.
O Rio Grande do Sul, maior produtor, com 44.000 hectares, destina a maior parte da sua produção para elaboração de sucos, vinhos e espumantes, muito deles com premiações e reconhecimentos internacionais.
Já o Vale do São Francisco, que conta com 15.300 hectares de cultivos irrigados, produz uvas de altíssima qualidade para o consumo in natura, o que também ocorre nos Estados de São Paulo (5.663 ha) e Paraná (1.720 ha). Plantios em menor escala são registrados em outros Estados, como Minas Gerais e Santa Catarina.
Mercado
Independente do destino da produção, os consumidores estão cada vez mais informados e exigentes com relação à qualidade, ao processo de produção e à segurança alimentar.
Em países como Holanda, Reino Unido e Estados Unidos, principais importadores de uva de mesa brasileira, o nível de exigência é tal que se faz necessário a obtenção de certificações para que o produto seja comercializado e aceito.
Tais certificações propõem padrões bastante rigorosos para o manejo do solo e da água, adubação, utilização de produtos fitossanitários, mão de obra, colheita, manuseio, embalagem e armazenamento pós-colheita.
No que tange o uso dos fitossanitários, cada país determina os produtos e a quantidade de moléculas que podem constar nas análises de resíduos ao chegar no seu destino, mesmo que estejam abaixo dos Limites Máximos de Resíduos (LMRs) permitidos.
Caso sejam detectados resíduos de um número maior do que o estabelecido pela legislação local, o produtor poderá ser penalizado com a recusa da carga ou incineração da mercadoria, acarretando grandes prejuízos, além de danos à imagem do setor e do País como exportador no agronegócio.
Evolução
Apesar dos avanços no desenvolvimento de produtos fitossanitários modernos, com perfis toxicológicos menos agressivos, baixas dosagens e curtos períodos de carência (período entre a última aplicação e colheita), limita-se cada vez mais o número de moléculas aceitas.
Neste cenário, faltam ferramentas para que os produtores possam complementar o manejo de forma eficaz, garantindo que suas uvas sejam colhidas com produtividades adequadas e com qualidade que expresse resultados na pós-colheita para atender as demandas dos mercados compradores.
Assim, novos produtos, como os biológicos e fitoquímicos, vêm ganhando mercado e passando a ser adotados pelos produtores como opção aos tratamentos convencionais.
Além de minimizar os riscos de contaminação, são vistos com muito bons olhos pelos consumidores, que buscam cada vez mais por alimentos saudáveis e livres de resíduos, sendo esse um caminho sem volta.
Os biológicos, que contêm um ou mais organismos vivos, como bactérias e fungos, são realidade e sua utilização vem crescendo a passos largos, ano após ano. Já os fitoquímicos, que podem ser definidos como substâncias obtidas diretamente dos vegetais, com a identificação de um conjunto de substâncias, tais como flavonoides, alcaloides, ácidos graxos e outras, são responsáveis pela atividade biológica de controle de pragas e doenças.
Fitocomplexo
Esse conjunto de substâncias, que foi denominado de fitocomplexo, começou a ganhar espaço e interesse nos últimos anos.
Além das substâncias serem responsáveis pela atividade biológica, podem também ativar os mecanismos de defesas das plantas, contribuindo para o controle mais eficaz.
Dessa maneira, os fitoquímicos podem apresentar grandes vantagens ao serem incorporados no manejo fitossanitário, por não apresentarem resíduos em pós-colheita, uma enorme vantagem se comparado aos agrotóxicos disponíveis no mercado.
Por possuírem diversos modos de ação, contribuem também para o manejo das resistências de patógenos a determinadas moléculas sintéticas, como de fungos às estrobirulinas, tradicionais fungicidas que são utilizados há décadas.
Ademais, os fitoquímicos podem trazer benefícios, como melhorias da qualidade na pós-colheita dos frutos, maior tempo de prateleira e melhor coloração.
Normatização rumo ao Agro
Quanto à legislação brasileira, ainda é aguardada uma normatização dos fitoquímicos. Em maio de 2020, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), juntamente com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) publicaram uma Minuta de Instrução Normativa Conjunta (Nº 01/2020) sobre os possíveis procedimentos a serem adotados para o registro dessa classe de produtos, porém, desde então pouco se evoluiu no tema.
A Aqua do Brasil tem realizado grandes investimentos em estrutura e desenvolvimento de novos produtos, e aguarda ansiosamente essa aprovação para que possa contribuir com essa demanda do mercado local e mundial para disponibilizar produtos de baixo impacto ambiental, altas performances, segurança aos usuários e zero resíduo ao consumidor, garantindo um aumento significativo na segurança alimentar da sociedade.
Mesmo com um forte apelo mundial por produtos mais sustentáveis e seguros, do ponto de vista ambiental e da saúde humana, o Brasil ainda caminha para a elucidação de diretrizes e parâmetros para registro de produtos derivados de vegetais, com características de agrotóxicos.
Com isso, abre uma lacuna, fazendo com que diversas empresas utilizem do apelo comercial para posicionar produtos como fitoquímicos com promessas de controle, deixando o agricultor sem saber o que realmente está utilizando e os benefícios que podem agregar à cadeia de consumo, que ano após ano aumenta sua exigência por alimentos seguros e que expressem sua capacidade organoléptica.